19) O que é a espiritualidade de acordo com o Yoga?


Espiritualmente nós somos o que sentimos, mentalmente somos o que pensamos e fisicamente somos o que fazemos. Mas às vezes "pensamos e fazemos" o que não "sentimos" e isso produz uma constante insatisfação ou Dukha, que nos leva à tristeza, ansiedade ou angústia. Embora a prática do Yoga começa com técnicas psicofísicas, estas não são o seu objectivo, uma vez que estas técnicas são apenas a base do desenvolvimento espiritual. O seu objectivo é, e tem sido, por mais de 5.000 anos, o espírito. Para entender isto, é necessário definir o espírito em termos científicos ou noológicos. Os estados espirituais são os nossos sentimentos e paixões cujo apoio é a emoção, o nosso mundo afetivo e estados de humor; isso é o nosso plano espiritual. A tristeza, alegria ou felicidade são estados espirituais e são sentimentos, pois o nosso espírito é composto por sentimentos. O nosso mundo interior são os nossos sentimentos. Numa primeira definição de Yoga, Patanjali disse: "Yoga Chitta Vritti Nirodha". O que significa, "Yoga é o controle das vibrações emocionais sobre a mente." Os Sentimentos, paixões e emoções não são parte do nosso mundo mental, porque a mente é apenas o processo de cognições do ser humano. A mente tem tem como unidade a ideia e imagem, com elas elabora correntes de ideias e imagens chamadas pensamentos, processa memórias e crenças, mas apenas interpreta o mundo espiritual, sem percebe-lo na sua totalidade.
Yoga é educação espiritual e seu objetivo é o Samadhi, um estado de "felicidade, harmonia e plenitude", no qual se transcende a dualidade e passa a formar vivencialmente parte do Todo, produzindo-se no mesmo instante um êxtase. O Yoga foi criado há uns 5.000 anos A.C., mas o primeiro tratado sobre Yoga foi escrito 200 anos a.c., por Yogacharya Patanjali, no norte da Índia.
A partir dessa data e até o presente, todo Método de Yoga obrigatoriamente é um conjunto de técnicas que levam ao Samadhi. Sem Samadhi e sem meditação não há Yoga, pois o Yoga é uma experiência e educação espiritual que se realiza através do Samadhi.
O Yoga afirma que somos um espírito que tem uma mente e um corpo. Então, a primeira coisa que aprendemos com os Mestres do Yoga, há 2000 anos atrás a. C., é Viyoga uma técnica ensinada por Patanjali, que consiste em separar o espírito da mente e do corpo, ver a sua verdadeira natureza. Esta técnica permite-nos compreender melhor nossos sentimentos e nossos estados afetivos, para depois podermos integrar-nos mental e comportamental.
Se a mente não capta o nosso espírito, a vida não tem sentido. O sentido da vida não é físico e muito menos mental, o sentido da vida é absolutamente espiritual.
Na sociedade de hoje, as pessoas não têm muito claro o que é a diferença entre sua mente e seu espírito. Em psicologia, esse esforço para compreender que o espiritual é um plano diferente, mesmo que integrado no físico e mental, devemo-los ao Dr. Viktor Frankl e sua contribuição, que tem permitido separar a noología (Ciência que tenta o estudo completo do espírito como princípio do conhecimento) da psicologia, para compreender a dimensão espiritual do indivíduo. Assim, hoje, podemos compreender que sobre as três inteligências básicas, a mental, a corporal e a espiritual, existem sub-inteligências.
A primeira técnica ensinada nos Sutras, tem sido o Viyoga ou seja, a capacidade de separar o espiritual da mente e do corpo. Nós somos o que sentimos, porque o espiritual de nós e de algo, é o que se sente em um determinado momento, gerando um estado afetivo. Yoga ensina a desenvolver a inteligência espiritual do ser humano, compreendendo-a como capacidade de adaptação afetiva, sentimental e estado de humor de um indivíduo e sua envolvente. Esta capacidade de adaptação espiritual, permite ao Yogui lidar com sentimentos e situações que para as outras pessoas seria insuportável. O Yogui, como qualquer praticante de Yoga aprende a sentir. Começa a entender e a aprender que ele, não só é o que pensa ou crê (mente) ou o que por sua vez, faz através de actos (mudanças físicas do mesmo corpo e das coisas que o rodeiam: ações). O Yogui começa a entender que seu espírito é o que ele mesmo sente. E ele começa a saber que é mais importante Ser do que Ter. Por exemplo, é mais importante ser médico, actor ou professor de yoga, do que ter um título de um professor yoga, médico ou ator; é mais importante Ser feliz do que ter uma cara de felicidade. Porque a felicidade nunca se tem, sempre se consegue quando se somos felizes. A liberdade é poder Ser, porque O Ter é sempre temporário. Para Ser eu próprio, preciso aprender a Ser. E para aprender a Ser, devo comunicar-me com o meu eu interior, com os meus sentimentos, paixões e desejos, com os afetos e estados de humor. O nosso mundo afetivo é o nosso espírito. Se dizemos que a inteligência espiritual do ser humano é a capacidade de adaptação afetiva, sentimental e estado de humor de um indivíduo ao seu meio ambiente, o Yoga como nenhuma outra ciência, nos permite trabalhar com a inteligência emocional (a capacidade de compreender e adaptar-se aos sentimentos e afeições dos outros) e nos permite trabalhar com inteligência emocional (capacidade de entender e adaptar as nossas emoções ao nosso ser).
O objetivo do Yoga não é apenas a integração psico-física-espiritual do ser humano, o objetivo do Yoga também não é a integração social e eto-ecológica do indivíduo, o objetivo do Yoga, há 5.000 anos, é o Samadhi, essa experiência de Plenitude existencial que nos integra com Deus, o Universo e o Todo. E essa experiência só se consegue com a educação espiritual e quando dizemos educação espiritual, não nos referimos a educação religiosa. Ser espiritual não significa ser religioso e ser religioso não significa ser precisamente espiritual. Por exemplo, o espírito e a espiritualidade podem se desenvolver a partir da arte, a arte é a expressão do espírito. A arte expressa nossos sentimentos. Se entendermos este ponto de vista, podemos compreender como um Asana ou postura de Yoga, pode se tornar espiritual, simplesmente pela atitude (vontade de agir). A base da filosofia do Yoga é Santosha: contentamento, contente por ter nascido e ter a oportunidade de viver. Ao olhar para um copo de água pela metade deves ser positivo e dizer "que sorte, está meio cheio" e não pensar negativamente que a metade está vazia. Procurar o que é necessário e não pensar muito sobre o que é desejável, ou priorizar a necessidade sobre o desejo. 


Extraído do livro de Yoga. Edição de 2017. Dharmachari. S. Maitreyananda